Curso de Letras: minha trajetória de 4 anos

Ser formado em Letras é uma experiência engraçada. Você é um exemplar raro de profissional e é normalmente visto como um excêntrico ou maluco, que optou por fazer licenciatura, estudar português e literatura, ser — absurdo! — professor.

Cada vez é mais raro encontrar pessoas que escolheram esse curso, cenário que tende a se agravar, já que as salas dos cursos de licenciatura pelo Brasil estão esvaziando, tanto pelo desinteresse quanto pela ascensão dos cursos a distância.

Este blog surgiu no mesmo dia em que prestei vestibular para entrar no curso de Letras, em 2007! Durante minha formação, relatei cada semestre, descrevendo minha trajetória como aluno que viria a tornar-se professor em 2011.

Desde então, tenho recebido muitos e-mails de aspirantes a essa área solicitando informações sobre como é o curso, a grade curricular, a quantidade de leituras, as oportunidades de trabalho, bolsas de estudo em Letras e outras dúvidas.

Então, a fim de contemplar esses estudantes que pretendem ingressar no curso de licenciatura plena em Letras, compilei neste artigo todos os meus relatos, semestre por semestre, disciplina por disciplina, para fornecer um panorama preciso das experiências que vivi enquanto estava na graduação.

Antes de começar, quero dar alguns detalhes sobre minha formação:

  • Minha graduação foi do tipo presencial — nada de EAD;
  • Eu não tive bolsa de estudos. Paguei o curso, que era noturno, integralmente (gastei em torno de R$60.000,00 ao longo dos 4 anos) — sempre precisei conciliar trabalho e estudo;
  • A instituição em que me formei é a Universidade de Caxias do Sul, campus Bento Gonçalves (cidade onde moro);
  • A graduação é em Letras e Literaturas de Língua Portuguesa, então para aqueles que pretendem cursar Letras-Inglês, Letras-Alemão, etc., essa parte de idiomas não está presente em minha trajetória — eu já era fluente em inglês quando fiz o vestibular.

Então vamos lá! Você vai notar que em cada uma das disciplinas eu digo qual o conceito que eu obtive. As notas, na UCS, são dadas dessa forma:

Notas Curso de Letras UCS

Minha média ao final do curso foi de 3,8 — ou seja, somando os conceitos que obtive em todas as disciplinas e tirando a média, meu rendimento foi de 95%, o suficiente para que eu recebesse, na formatura, o tão sonhado prêmio da láurea acadêmica.

Índice

Meu primeiro Semestre na faculdade de Letras

Português para licenciaturas

Uma disciplina básica, mas muito importante para o meu curso. Nela aprendi, teoricamente, como fazer resumos, resenhas, referências bibliográficas, citações e mais alguns elementos que ajudam na construção de texto.

Meu conceito final nessa disciplina foi 3.

Sociologia da educação

A proposta dessa disciplina é eliminar alguns preconceitos, algumas ideologias formadas pelos futuros professores que estão ali.

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O professor, doutor pela universidade de Léon, demonstrou enorme conhecimento. Construiu discussões bem interessantes sobre diversos aspectos que regem nossa sociedade e podem influenciar na forma de abordagem de um professor em sala de aula.

Foram assuntos bem amplos, com estudos separados de Marx, Durkheim, Weber, Comte, mas com foco direto em nossas realidades.

Meu conceito final nessa disciplina também foi 3.

Estudos Literários I

Capa do livro Arte Poética, de Aristóteles, da Editora Martin Claret

Em Estudos Literários (antiga Teoria da Literatura), aprende-se, primeiramente, como surgiu a literatura. Desde Aristóteles com a sua Arte Poética, até o fim do século XIX. É uma trajetória bem grande, que passa pelo estudo dos gêneros literários e de diversos outros aspectos da arte de escrever.

Além disso, foi aqui que aprendi a analisar poemas sob o aspecto técnico: escansão, métrica, ritmo e todos os fatores que se desprendem de um texto poético, de forma teórica.

Meu conceito final na disciplina foi 4!

Linguística I

Sem dúvida a melhor das disciplinas. O objetivo é, basicamente, eliminar a visão que trazemos do ensino médio, em que a gramática é um conjunto de prescrições sobre a língua.

A linguística é o estudo da linguagem verbal humana. Nessa disciplina, aprende-se sobre vários aspectos essenciais da língua, como sua grande diversidade, suas origens e ainda sobre o preconceito linguístico.

Leia o artigo que escrevi na época, que define o que é Linguística.

Fizemos uma viagem em busca das origens da linguagem, descobrimos como foram os primeiros estudos e avançamos até o início do século XX, com o estruturalismo de Saussure.

Meu conceito final foi também 4!

Literatura Ocidental

Nessa disciplina, até o nome assusta. O termo é extremamente abrangente e o trabalho que tivemos foi proporcional.

Começamos com Édipo Rei, passando pelo Conto de Amor e Psique, Decamerão, Rinconete e Cortadilho, Macbeth, A vida é sonho, Fedra, Os sofrimentos do Jovem Werther, O Capote, Bola de Sebo e finalmente, A Casa de Bernarda Alba.

Foi uma jornada e tanto! Com essas obras de todas as épocas e estilos, pudemos observar a evolução literária, os diversos gêneros, a presença do elemento social e muitos outros fatores que sempre estiveram presentes, de uma forma ou de outra, na literatura.

Meu conceito na disciplina: 4!

Conclusão

Foi um semestre e tanto! Fiquei bem feliz por tirar nota máxima nas três disciplinas principais (as outras são básicas) e estou bastante seguro de que é isso mesmo que eu quero.

Meu segundo Semestre na faculdade de Letras

O primeiro semestre, como era de se esperar, mostrou-se leve e piedoso. A coisa começou a esquentar nesse segundo semestre, que não permitiu muitas paradas pra respirar.

Vamos ver como foram as disciplinas que cursei:

Morfossintaxe I

O primeiro contato acadêmico que tive com o português puro. Aqui nós estudamos as estruturas verbais e nominais.

Agora eu já sei bastante sobre desinências, vogais temáticas, sufixos, prefixos, processos de derivação e composição, além das apaixonantes locuções verbais.

Meu conceito final não podia ser melhor: 4.

Linguística II

Capa do livro Preconceito Linguístico, de Marcos Bagno

Enquanto na Linguística I aprendemos sobre as origens e a evolução dos estudos da linguagem, na Linguística II adentramos em um dos ramos mais discutidos da área: a Sociolinguística, que estuda todos os aspectos da linguagem e sua relação com a sociedade.

Daí todo meu interesse recente pelo Preconceito Linguístico.

Meu conceito final também foi máximo: 4.

Estudos Literários II

Estudos Literários I foi uma matéria que decepcionou bastante no semestre passado. Coisa que não se repetiu dessa vez.

O foco de estudo foi a narrativa e seus elementos constituintes: narrador, personagens, tempo, espaço, ambiente e enredo. Além disso, sempre foram feitas relações das obras com a sociedade e, a partir disso, desenvolvemos debates muito interessantes.

Foi, sem dúvida, a disciplina mais trabalhosa do semestre, mas também a mais satisfatória. A carga de leituras foi grande, pois são necessárias obras literárias para que a análise de narrativas fosse feita.

Meu conceito final: 4.

Políticas Educacionais: Estruturas e Sistemas

Aqui começam as disciplinas específicas a currículos de licenciatura. Já vou dizer que me decepcionaram bastante. Algumas pelo professor não ter qualificação suficiente, outras pelo conteúdo em si. Isso fez com que eu não me dedicasse tanto a elas.

Em Políticas Educacionais aprende-se sobre a evolução do sistema de ensino brasileiro. Estudam-se as leis propriamente ditas: todas as Constituições desde 1888, Leis de Diretrizes e Bases (LDB), o que é obrigatório, o que não é, como deveria ser (e nem sempre é) etc.

Meu conceito final foi satisfatório: 3.

Filosofia da Educação

Eu não sei exatamente o que aprendi nessa matéria. Talvez algo como “O professor não deve desanimar diante das dificuldades e nunca pode perder a esperança, não importa o que aconteça”.

Só valeu a pena por um filme interessante chamado Conrack (aqueles no estilo “professor-herói-que-doma-alunos-impossíveis”) e por algumas intrigas e desafios com o professor.

Por exemplo, um de seus métodos foi exigir um diário de classe ao final de cada aula, a ser entregue ao término do semestre. A partir disso, meu trabalho intitulou-se O porquê de o Diário de Classe ser uma prática pedagógica insatisfatória. Instigante, não? :-)

Atualização de 2015: Esses dias eu estava folheando o material da faculdade e encontrei o texto que acabo de citar. Que vergonha! Meu argumento era completamente sem sentido, tendo servido apenas para ser do contra em uma disciplina que poderia ter sido mais bem aproveitada.

Meu conceito final foi maior do que eu esperava: 3.

Psicologia do Desenvolvimento

Argh! Eu ainda me arrependo do dinheiro que gastei com essa disciplina.
Simplesmente um lixo. Não foram feitas comparações com a realidade do ensino, o que tornou o conteúdo isolado e sem sentido. Freud, Erikson, Piaget, um monte de teorias soltas e jogadas.

Eu estudei, tempos depois, todos esses teóricos diretamente na fonte, lendo suas obras mais importantes e contextualizando-os devidamente. Baixe obras de Pedagogia grátis.

Meu conceito final foi 3, mas isso não significa nada.

Conclusão

Eu sempre ouvi falar das tais disciplinas “caça-níquel”, mas nunca tinha me deparado com elas. Realmente não é uma situação nada agradável.

Apesar disso, o semestre foi bastante produtivo em discussões, elaboração de textos e um conhecimento teórico inicial da estrutura da língua portuguesa.

Meu terceiro Semestre na faculdade de Letras

Muita coisa aconteceu nesse período em que crises intelectuais acompanharam momentos de estudo profundo e entusiasmado.

Vamos falar um pouco sobre as disciplinas que cursei:

Literatura Portuguesa

Sem dúvida a matéria mais trabalhosa. Começamos com aquela história de “Contextualização histórica” e fomos para os trovadores, com suas cantigas de amor, amigo, escárnio e mal-dizer.

Logo chegamos em Gil Vicente e seu Auto da Barca do Inferno e A Farsa de Inês Pereira. Além desses, também teve Os Sermões do Padre Antônio Vieira, Os Lusíadas, sonetos de Camões, sonetos de Bocage, Eça de Queiróz com seu O Primo Basílio e um trabalho sobre Fernando Pessoa e seus heterônimos.

Padre Antônio Vieira

Foi legal, sim. O artigo final foi particularmente fascinante de pesquisar e escrever. Porém, a questão do cânone continua atormentando. Senti falta de autores contemporâneos. Saramago, por exemplo.

Meu conceito final foi máximo: 4

Psicologia da Aprendizagem

A Psicologia do Desenvolvimento, no semestre passado, foi perda de tempo e dinheiro, ponto.

Nesse semestre, esta, da Aprendizagem, foi mais proveitosa. Aprende-se (ou melhor, divaga-se sobre) os conceitos de aprendizagem e todas as teorias dos pensadores: Piaget, Skinner, Freire, Rogers e vários outros.

O legal mesmo foram os relatos de experiências em sala de aula que a própria professora fez.

Meu conceito final: 4. Nem eu esperava.

Antropologia I

Tudo é cultural.

Eu já tinha consciência da sociedade consumista e continuo tendo, sem mudar nada. Só isso.

Adoro disciplinas pedagógicas. Ainda mais essas nas quais a expressão “futuro professor” sequer é lembrada.

Meu conceito final: 3. Satisfatório.

Leitura e Produção Textual I

A melhor disciplina do semestre, apesar de isso não significar muita coisa, dada a qualidade das demais.

Aprende-se sobre os gêneros literários: vimos o relato pessoal, a crônica, o conto fantástico, a notícia, a reportagem.

Também teve umas rodas de leitura das produções. Foi bom pro ego, até que não escrevo tão mal assim, afinal.

Meu conceito final: 4.

Fundamentos Teóricos-Metodológicos da Atuação Docente

Caça níquel absoluto.

Divaga-se sobre “o ensino tradicional” e o “ensino inovador”, mas na prática, em uma turma de 60 alunos e 30 baderneiros, não aprendi nada de útil.

Conceito final: 3.

Morfossintaxe II

Lembram dos objetos diretos, sujeitos e predicados voando pela tela? Pois é. Justamente por causa dessa disciplina.

É difícil dizer que português puro, estrutura de frases e coisas assim são “legais”, mas essa foi a disciplina que mais valeu a pena. Aprendi MUITO e a matéria foi muito bem trabalhada.

Meu conceito final também foi máximo: 4

Atividades Complementares

Além das disciplinas normais, já falei por aqui que estou trabalhando em um projeto de pesquisa sobre Literatura e Gênero.

Tenho aprendido e obtido muito estímulo com esse trabalho. Leitura, pesquisa, escrita; logo, apresentação em seminários da UCS e da PUC. Está sendo fantástico.

Conclusão

É certo que eu ando decepcionado com algumas disciplinas das licenciaturas que, convenhamos…

Mas foi, de qualquer forma, um semestre de muita evolução e de aprendizagens bem sólidas que culminaram com notas altas (não que as notas signifiquem muita coisa, mas são bons estímulos) e um prelúdio para um quarto semestre de ainda mais trabalho e discussões (sim, preparem-se).

Meu quarto Semestre na faculdade de Letras

E estamos na metade do curso universitário! Esse foi um semestre relativamente tranquilo, no qual as disciplinas, apesar de exigentes, não tomaram muito tempo. O bom disso é que foi possível ler algumas coisas extra e planejar estudos complementares.

É estranho chegar na metade do caminho. Você sabe que já está longe do início, mas que tem “uma vida” até chegar no final. Desafiador :)

Vamos falar das disciplinas que cursei.

Leitura e Produção Textual II

Essa disciplina é complementar àquela do terceiro semestre. Nela, continuamos o estudo e produção de gêneros textuais. Dessa vez foram: texto explicativo, artigo de opinião, carta argumentativa, texto instrucional e anúncio publicitário.

Tudo bem, eu também acho que haveria gêneros mais interessantes. Mas, de qualquer forma, foi válido.

Meu conceito final: 4

Muita gente já me contatou perguntando se no curso de Letras se aprende a escrever melhor. A minha resposta, de maneira geral, é não.

Você pratica bastante a escrita durante o curso, mas em nenhuma das disciplinas, em minha experiência, algum professor realmente mostrou técnicas, estruturas ou recursos de escrita que tenham contribuído significativamente para melhorar esse aspecto — claro que nisso não entram regras gramaticais, o que é largamente estudado ao longo de muitas matérias.

Foi pensando nessa falha que eu escrevi muitos artigos que realmente contribuem para aprimorar a escrita. Não deixe de ler!

Psicologia de Grupos

O foco aqui, como o nome já diz, é estudar o comportamento de grupos.

Fizemos isso através da observação de grupos variados (e do nosso próprio grupo, às vezes) e de várias discussões sobre essas observações.

Além disso, a professora propôs diversas atividades (as famosas “dinâmicas”) ao longo do semestre que proporcionaram algumas ideias interessantes em relação a nossas futuras práticas docentes.

Meu conceito final: 4

Literatura Brasileira I

História Concisa da Literatura Brasileira, de Alfredo Bosi

A primeira das 5 disciplinas de Literatura Brasileira que vou ter. Nessa, começamos lá com o Quinhentismo e a literatura informativa (eca!), passamos pelo barroco, arcadismo e desembocamos no romantismo.

O principal autor estudado foi José de Alencar e seus romances O Guarani, Iracema, Lucíola e Senhora. Além desses, nos aventuramos por A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães e Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida.

A parte teórica realmente não fez muito sentido (lembra da literatura do ensino médio? Igual), mas as discussões sobre as obras foram bem válidas. Além disso, conheci a obra que certamente vai me acompanhar por muito tempo a partir de agora: História Concisa da Literatura Brasileira, de Alfredo Bosi.

Meu conceito final: 4

Morfossintaxe III

Essas matérias de “português puro” costumam assustar. E realmente assustam no início. Porém, quando percebemos as finesses da coisa, fica fácil.

Em morfo III aprende-se basicamente sobre o período composto.

Você deve lembrar das traumatizantes Orações Subordinadas Substantivas Subjetivas reduzidas de infinitivo e monstros derivados, hã?

É claro que alguém que faz Letras precisa desse tipo de conhecimento, o que não quer dizer que os pobres alunos devam decorar essas coisas. Isso é algo que aprendemos aqui: formas de trabalhar a língua portuguesa como ela deve ser trabalhada, e não traumatizar os alunos, como fizeram conosco.

Outro detalhe legal é que eu dei aulas particulares sobre a matéria para duas colegas :-)

Meu conceito final: 4

Linguística III

Nessa maravilhosa disciplina, o conteúdo estudado é bem vasto.

Começamos com os processos de aquisição da língua materna, passamos por aspectos de psicolinguística, teoria gerativista de Chomsky, processos de aquisição de segunda língua, linguística aplicada, algo sobre mecanismos de coesão e, finalmente, estratégias para despertar o gosto pela leitura em alunos (meu trabalho sobre isso foi bastante elogiado, em breve alguns tópicos por aqui).

Sempre adorei linguística exatamente por causa desse grande número de assuntos interessantes abordados.

Meu conceito final: 4

Epistemologia

Epistemologia é o estudo sobre o conhecimento humano. Conhecida também como Teoria da Ciência, essa disciplina traça um panorama da evolução da ciência desde o seu início até hoje.

As aulas eram aos sábados pela manhã, mas apesar do cansaço da turma, o professor conseguiu estimular discussões bem interessantes sobre questões como ética na ciência, importância do método científico, ciência e tecnologia, entre outras.

Pra finalizar, fizemos uma vista ao Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS, o qual eu já tinha visitado, mas é sempre fantástico.

Meu conceito final: 4

Um detalhe que me deixou bastante feliz foi que todas minhas notas foram máximas. Sem dúvida é gratificante terminar um semestre de 6 disciplinas com 6 notas máximas :-)

A partir de agora, começa uma nova etapa do curso de Letras, pois iniciam os estágios. É hora de brincar de ser professor!

Meu quinto Semestre na faculdade de Letras

Dizer que meu quinto semestre na faculdade de Letras foi trabalhoso é pouco. Passada a metade do curso, parece que foi lançado um desafio do tipo “só os fortes sobrevivem” — e estava na hora disso acontecer.

Somando-se todos os trabalhos, foram mais de 400 páginas escritas e aproximadamente 3 mil páginas lidas; números que assustam qualquer universitário que não faça Letras, mas que deixam orgulhoso qualquer um que faça, principalmente quando o resultado é tão satisfatório como o que alcancei.

Vamos falar um pouco das disciplinas cursadas.

Semântica e Pragmática

Nessa matéria se estuda, basicamente, os significados intrínsecos e extrínsecos da língua. Semântica estuda os significados internos da sentença, já a Pragmática estuda os significados conforme o contexto, a situação de fala.

Fala-se em metáfora, metonímia, pressuposição, ambiguidade, referência, inferência, regras de conversação e mais.

Meu conceito final: 4.

Prática Pedagógica e sua Organização

Essa é daquelas disciplinas pedagógicas para as quais eu sempre torço o nariz. Digo que continuo torcendo, com a diferença de que agora sei fazer plano de aula.

Aprendemos coisas particularmente úteis para os estágios, que exigem o tipo de sistematização de aulas com Objetivos, Procedimentos, Avaliação, etc.

Meu conceito final na disciplina foi 4.

Literatura Brasileira II

Capa do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

Aqui, como esperado, o conteúdo continuou a partir do final do Romantismo, último tópico de Literatura Bras. I, e foi até o Pré-Modernismo e os regionalistas.

A lista de leituras, composta por 18 livros, dos quais consegui ler apenas 7 (nem todos os 18 eram estritamente necessários), foi a maior que já tive desde o início da faculdade e era formada por:

  • Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (lido)
  • Canaã, de Graça Aranha (lido)
  • O Cortiço, de Aluísio Azevedo (lido)
  • A Carne, de Julio Ribeiro (lido)
  • Bom Crioulo, de Adolfo Caminha
  • O Ateneu, de Raul Pompéia (lido)
  • Os Sertões, de Euclides da Cunha (lido)
  • Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato
  • Recordações do Escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto
  • Contos Gauchescos, de Simões Lopes Neto
  • Tarde, de Olavo Bilac
  • Poesia, de Alberto Oliveira (lido)
  • Aleluias, de Raimundo Correia
  • Poemas e Canções, de Vicente de Carvalho
  • Últimos Sonetos, de Cruz e Souza
  • Poesia, de Alphonsus de Guimaraens
  • Eu, de Augusto dos Anjos (lidos alguns poemas)
  • As relações naturais e outras comédias, de Qorpo Santo

Meu conceito final: 4

Literatura e Leitura na Escola

Aqui o objetivo era estudar formas “certas” de ensinar literatura na escola. Depois de ler bastante teoria, acabamos por escrever pilhas de planos de aula para os mais diversos níveis de ensino.

Gostei principalmente da lista bem simpática de leituras:

  • História meio ao contrário, de Ana Maria Machado
  • A fada que tinha idéias, de Fernanda Lopes de Almeida
  • Meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos
  • A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga Nunes
  • Cinco Histórias do Bruxo do Cosme Velho, contos de Machado de Assis
  • Entre a espada e a Rosa, de Marina Colasanti
  • Memórias da Emília, de Monteiro Lobato
  • A Droga da Obediência, de Pedro Bandeira
  • Histórias Folclóricas de medo e de quebranto, de Ricardo Azevedo
  • As Meninas da praça da alfândega, de Sérgio Caparelli
  • Os Meninos da rua da praia, de Sérgio Caparelli
  • O Menino marrom, de Ziraldo

Meu conceito final na disciplina: 4

Estágio I em Língua e Literatura de Língua Portuguesa

O tão temido estágio. Nesse primeiro, o objetivo era observar aulas do ensino médio e fundamental em escolas públicas e privadas, depois escrever um relatório com as observações e reflexões sobre as aulas, uma resenha teórica e uma unidade de ensino com propostas melhores para aquelas turmas.

Apesar de trabalhosa, foi uma ótima disciplina. Aprendi bastante e estou ansioso para aplicar tudo “oficialmente” no próximo semestre, em que o Estágio II exige prática docente.

Meu conceito final: 4

Pesquisa em Educação

Como minha universidade não exige monografia como trabalho de conclusão (temos um estágio adicional como forma de TCC), encarei o trabalho dessa disciplina como sendo minha monografia. Basicamente escolhe-se um assunto e passa-se o resto do semestre pesquisando até escrever e apresentar oralmente o trabalho final.

O tema que escolhi desprende-se daquilo que tenho discutido por aqui há tempos: a literatura de massa como transformador cultural.

Ao longo do trabalho, analisei, a partir do best seller O Código da Vinci, de Dan Brown, e uma extensa base teórica, de que forma (e até que ponto) esse tipo de literatura é responsável por transformações a nível de cultura e imaginário social.

Meu conceito final da disciplina: 4

Conclusão

Eu sobrevivi! E tirar nota máxima em todas as disciplinas pelo segundo semestre consecutivo é bem motivador; tanto que para o próximo vou aumentar a carga, cursando 8 matérias.

Meu sexto Semestre na faculdade de Letras

Está terminado o semestre mais opressor de todo o curso.

Meu sexto semestre cursando Letras mostrou-se incrivelmente mais trabalhoso em relação aos demais, já que fiz oito disciplinas, incluindo o estágio.

No final, como de costume, os resultados foram muito bons e consegui realizar algumas metas que havia definido no início — como ser convidado para o Colóquio dos Estágios e esboçar em mais de 10 páginas algumas ideias para o mestrado.

Falemos um pouco sobre as disciplinas.

Análise e Produção do Texto Didático

Nessa matéria, como o nome já diz, aprendemos a escrever textos didáticos. Nas primeiras aulas, nos detemos ao aprofundamento de algumas teorias relativas a isso e também à análise de livros didáticos utilizados nas escolas, com o objetivo de verificar sua conformidade em relação àquelas teorias.

Da metade do semestre em diante, o foco foi a criação de material didático por nós, alunos.

Em diversos momentos, foi-nos apresentado determinado conteúdo gramatical — como interjeições, por exemplo — e nós devíamos elaborar um material escrito que corresponderia a um capítulo de livro didático, composto por textos para estudo, conceitos, dicas de estudo, questões de fixação, tudo isso.

A técnica principal utilizada aqui é chamada de transposição didática, ou seja, a transformação de um texto bastante técnico, como costuma ser o das gramáticas, para algo mais simples, que se aproxime da linguagem do aluno e que parta do texto (notícias, contos, poemas, etc., aquilo que é chamado de objeto concreto, em língua portuguesa) para os conceitos (aquilo que é abstrato).

De uma forma geral a disciplina foi boa. No entanto, achei bastante repetitiva, pois houve várias atividades que seguiam exatamente o mesmo molde explicado acima, mudando apenas o conteúdo a ser trabalhado.

É possível que eu e mais alguns colegas achemos isso, pois estamos mais avançados dentro do curso e já conhecíamos boa parte de todo esse procedimento.

Meu conceito final:4

Estágio II em Língua e Literaturas de Língua Portuguesa

A disciplina de estágio começa com uma grande enxurrada de papéis, regras e datas para os estagiários.

Na primeira aula tudo isso nos foi apresentado, deixando todos um tanto apavorados, o que deve ser normal.

O próximo passo consistiu em ler uma pilha de textos teóricos sobre o ensino de Língua Portuguesa e Literatura (repare que ambas são abordadas juntamente, na mesma disciplina, é por isso que duas professoras dão aula em conjunto no Estágio).

A partir desses textos, que incluíam autores como Irandé Antunes, Pedro Demo, Regina Zilberman e vários outros, fizemos dois debates e devíamos escrever uma resenha que serviria como texto teórico para o relatório final.

Terminada essa etapa, era hora de iniciar a escrita dos planos de aula.

Nessa altura, já sabíamos para qual turma daríamos aula (pois tivemos que observar uma aula da professora titular) e precisávamos escolher uma temática que serviria de fio condutor para nossos 20 períodos de estágio.

A temática que escolhi, baseado nas conversas que observei na turma quando fiz a primeira visita, foi Tecnologias: seu brilho e suas amarras, e o conteúdo que a professora titular pediu que eu trabalhasse foi orações coordenadas.

Com essas duas informações, escrevi meus planos para 20 horas de aula, que foram apresentados para aprovação às minhas professoras na universidade, que praticamente não requisitaram nenhuma modificação.

Leia meu tutorial passo a passo sobre como fazer um plano de aula.

Desde o início do semestre, eu sabia que alguns de nós, estagiários, seríamos escolhidos para um evento chamado Colóquio dos Estágios, no qual os melhores planos são apresentados para alunos de licenciatura de toda a universidade.

Evidentemente, um dos meus objetivos foi ser convidado para essa apresentação, o que alcancei exatamente através das minhas aulas sobre orações coordenadas, que, segundo minhas professoras, foram uma abordagem inédita em relação a esse conteúdo. Para mim, foi uma realização muito grande.

Meu conceito final:4

LIBRAS

A Língua Brasileira de Sinais passou a ser parte obrigatória dos currículos de Letras faz pouco tempo.

Nessa disciplina, que também é ministrada por duas professoras, uma delas surda, não somos introduzidos apenas a uma nova língua, mas também a uma nova maneira de ver deficiências como a surdez.

Descobrimos, além disso, que os surdos têm uma cultura própria, entramos em contato e produzimos materiais didáticos para surdos e ainda vemos que a inclusão não é algo tão desejado assim por aqueles que são incluídos.

Sabe-se que, quando aprendemos uma língua em um ambiente formal, acabamos por não praticá-la em sua totalidade, já que é excluída a parte pragmática, a parte situacional de um diálogo.

Eu percebi isso quando, já nas férias, a 400Km da universidade, encontrei minha professora surda enquanto passeava pelo centro da cidade de Pelotas. Fiquei muito feliz por ter conseguido conversar com ela através daquilo que ela mesma havia me ensinado. Foi uma forma ótima de concluir a disciplina, mesmo depois de terminada.

Meu conceito final: 4

Essa disciplina de LIBRAS foi uma das que mais expandiram minha visão de mundo ao longo do curso — eu sempre fui muito fechado em relação ao tema “deficiências” até então.

Fonética e Fonologia

Aprender os aspectos fonéticos e fonológicos de uma língua parece bem estranho à primeira vista.

O que importa saber que [p], [t] e [k] são consoantes oclusivas surdas e [b], [d] e [g] são consoantes oclusivas sonoras, por exemplo?

Demorei um tempinho para perceber que a maioria dos problemas de escrita dos alunos estão relacionados a aspectos de ordem sonora e que a resolução desses problemas torna-se muito mais fácil quando possuímos uma gama de conhecimentos que partem do princípio no qual fonema é a menor parte significativa e abstrata de uma língua.

Uma disciplina bastante técnica, mas muito útil.

Meu conceito final:4

Temas de Teoria e Crítica Literária

Essa foi, sem dúvida alguma, a disciplina em que mais aprendi coisas novas em todo o curso.

Com uma bibliografia enorme, digna de uma pós-graduação, segundo a professora, tivemos uma panorama de todas as escolas de crítica literária, desde os formalistas russos, passando pela estilística, new criticism, estruturalismo e pós-estruturalismo, estética da recepção, literatura e psicanálise, sociologia da literatura, até, por fim, os recentes estudos culturais.

Foi algo extremamente trabalhoso, pois tivemos leitura e debates sobre mais de 600 páginas de texto altamente técnico, mas, ao mesmo tempo, incrivelmente produtivo pelo aprendizado e pela base sólida que nos deu para o mestrado.

A bibliografia é tão rica que me sinto obrigado a indicar a você que estuda literatura:

I – A especifidade da Teoria da Literatura e do seu objeto de estudo. A noção de valor.

  • CULLER, Jonathan. O que é Teoria?, do livro Teoria Literária. Uma Introdução.
  • EAGLETON, Terry. Introdução: o que é literatura?, do livro Teoria da literatura: uma introdução.
  • COMPAGNON, Antoine. O Valor, do livro O Demônio da Teoria. Literatura e senso comum.

II. A reflexão teórica soe a literatura no século XIX: percurso teórico-crítico, principais tendências.

2.1 O biografismo, o Impressionismo e o Positivismo

  • AGUIAR e SILVA, Vítor M. Origem e desenvolvimento dos modernos estudos de História e Crítica literárias, do livro Teoria da literatura.
  • PEREIRA, Lúcia Miguel. Machado de Assis, do livro História da Literatura Brasileira: prosa de ficção – de 1870 a 1920 (aplicação do método biografista à interpretação da literatura).
  • ROMERO, Silvio. Segunda fase do Romantismo e seu momento culminante: o indianismo de Gonçalves Dias, do livro Compêndio de História da Literatura Brasileira (aplicação do método Positivista à interpretação da literatura).
  • SILVA, João Pinto da. Vultos do meu caminho (aplicação do Impressionismo à interpretação da literatura).

III. A reflexão teórica sobre a literatura no século XX: percurso teórico-crítico. Principais tendências teóricas.

  • SOUZA, Roberto Acízelo de. Outras questões, do livro Teoria da literatura.
  • CULLER, Jonathan. Apêndice: Escolas e Movimentos Teóricos, do livro Teoria Literária. Uma Introdução.

IV. Teorias Textualistas

4.1 O Formalismo Russo

  • AGUIAR e SILVA, Vítor M. O Formalismo Russo, do livro Teoria da literatura.
  • TADIÉ, Jean-Yves. Os Formalistas Russos, do livro A crítica literária no século XX.

4.2 O New Criticism

  • AGUIAR e SILVA, Vítor M. O New Criticism, do livro Teoria da literatura.

4.3 A Estilística

  • AGUIAR e SILVA, Vítor M. O Estilística, do livro Teoria da literatura.
  • CÂMARA Jr, Joaquim Mattoso. Cão e cachorro no Quincas Borba. O discurso indireto livre em Machado de Assis. Machado de Assis e as referências ao leitor, do livro Ensaios machadianos (aplicação da estilística à interpretação dos textos literários)
  • CÂMARA Jr, Joaquim Mattoso. Contribuição à estilística da língua portuguesa.
  • ROTH, Wolfgand. Tendências atuais na estilística. Letras Hoje. Porto Alegre: PUCRS, n. 55, março de 1984.
  • MARTÍN, Jose Luis. Crítica Estilística. Madri: editorial Gredos, 1972.

4.4 O Estruturalismo

  • AGUIAR e SILVA, Vítor M. A problemática do estruturalismo, do livro Teoria da literatura.
  • TODOROV, Tzvetan. Análise estrutural da narrativa, do livro As Estruturas Narrativas.
  • LEPARGNEUR, H. Lévi-Strauss e a Etnologia, do livro Introdução aos Estrutralismos.
  • SANT’ANA, Affonso. O cortiço, do livro Análise estrutural de romances brasileiros (aplicação do método estruturalista à interpretação de texto literário)

V. Sociologia da literatura

  • RICCIARDI, Giovanni. Digressão histórica, do livro Sociologia da Literatura.

5.1 Teorias de orientação sociológica

5.1.1 O Marxismo

  • EAGLETON, Terry. Forma e conteúdo. O escritor e o comprometimento em arte, do livro Marxismo e Crítica Literária.
  • CANDIDO, Antonio. A literatura e a vida social, do livro Literatura e Sociedade.
  • BERTUSSI, Lisana. A cidade e o campo nas novelas de Reynaldo Moura: uma leitura a partir da crítica sociológica, do livro Mestres em Letras (aplicação do método sociológico, com a crítica genética, à interpretação de textos literários).

5.1.2 Estética da Recepção

  • JAUSS, Hans R. A Estética da Recepção: colocações gerais, no livro organizado por LIMA, Luís Costa, intitulado A literatura e o leitor.
  • ZILBEMANN, Regina. Paralelas que se encontram em algum lugar da teoria. Projetando a noa história da literatura e Helena: um caso de leitura, do livro Estética da Recepção e História da Literatura.
  • JAUSS, Hans R. A história da literatura como provocação à teoria literária.
  • BERTUSSI, Lisana. Resenha. In: Revista Chronos. Caxias do Sul: EDUCS, 1990. v. 23, n. 2.

5.1.3 Bakhtin e Dialogismo

  • FRANK, Joseph. As vozes de Mikhail Bakhtin, do livro Pelo prisma russo: ensaios sobre literatura e cultura.
  • PEYTARD, Jean. O autor, o espaço e o tempo do romance, do livro Mikhail Bakhtin: Dialogismo e Análise do discurso.

VI. Psicanálise e Literatura

  • TADIÉ, Jean-Yves. A crítica psicanalítica, do livro A crítica literária no século XX.
  • SCHNEIDERMAN, Mirian. Psicanálise e poesia, do livro O hiato convexo: literatura e psicanálise.
  • PASSOS, Cleusa Rios. As divisas da trajetória: possíveis confluências. Clarice Lispectos: os elos da tradição, do livro Confluências: Crítica Literária e Psicanálise (aplicação do método psicanalítico à interpretação de textos literários)
  • GONÇALVES, Robinson Pereira. Percurso do aprendiz: literatura e psicanálise. Sta Maria: UFSM, 1977. (aplicação do método psicanalítico à interpretação de textos literários).
  • BETTELHEIN, Bruno. Psicanálise dos contos de fadas (aplicação do método psicanalítico à interpretação de textos literários).

VII. A fenomenologia e Literatura

  • RAMOS, Maria Luiza. Considerações teóricas. O elemento poético em Grande sertão: veredas, do livro Fenomenologia da obra literária.

VIII. Pós-Estruturalismo

  • EAGLETON, Terry. Pós-Estruturalismo, do livro Teoria da literatura: uma introdução.

IX. Pós-Modernismo/Estudos Culturais

  • CEVASCO, Maria Elisa. Situando os “Cultural Studies”, no livro organizado por SCHMIDT, Rita, Nações/narrações: nossas história e estórias.
  • CULLER, Jonatthan. Literatura e Estudos Culturais, do livro Teoria Literária. Uma Introdução.

Meu conceito final:4

Linguística Textual

Nessa disciplina, como o nome já diz, o objeto de estudo é o texto.

Dessa forma, vimos os conceitos de texto, os tipos de texto (descritivo, dissertativo e argumentativo) e os mecanismos que contribuem para sua formação, como coerência e a coesão.

Basicamente, foi uma retomada de matérias que vimos no início do curso, mas de forma mais aprofundada.

Meu conceito final:4

Universidade de Sociedade

A outrora denominada Realidade Brasileira é uma disciplina que se mostrou muito mais produtiva do que eu esperava.

Através de um resgate histórico acompanhado por análises interessantíssimas do professor, pudemos entender melhor vários mecanismos que regem a sociedade de nosso país e que estão por trás da mídia e dos meios de comunicação em geral.

Aprendi uma coisa chamada registros culturais, que são marcas que se fixam no comportamento de uma sociedade devido à forma de evolução histórica que lhe acompanhou, e que esses registros, no Brasil, são:

  • Descompromisso x Criatividade
  • Progresso x Intervenção
  • Utopia x Realização
  • Dependência x Autonomia

Meu conceito final:4

Literatura Brasileira III

Capa do livro Os Ratos, de Dyonelio Machado

Na literatura desse semestre estudamos o período do Modernismo.

Sob o viés campo-cidade, lemos e analisamos poemas de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Jorge de Lima, Mário Quintana e Vinícius de Moraes.

Além disso, ainda estudamos o romance de 30 e o regionalismo através das obras:

  • Menino de engenho, de  José Lins do Rego
  • O quinze, de Raquel de Queiroz
  • Vidas secas, de Graciliano Ramos
  • Os ratos, de Dyonélio Machado
  • Caminhos Cruzados, de Érico Veríssimo

O trabalho final do semestre consistiu em escrever um artigo acadêmico sobre algum tema relacionado ao Modernismo.

Minha opção foi analisar as obras de Carlos Drummond de Andrade e do francês Charles Baudelaire sob um viés que, apesar de praticamente inexistente nos estudos literários, vem me intrigando bastante: a heresia.

Dessa forma, o título do meu artigo foi A heresia em Drummond e Baudelaire: Literatura e imaginário de uma nova era, cujo resumo é:

A heresia sempre representou uma forma de subversão religiosa ou social vista com maus olhos pelos detentores do poder. Com Baudelaire e Drummond, ela aparece como questionamento das formas de poder vigentes e, seguindo a concepção de modernidade baudelaireana, pode ter sido um elemento fundamental na constituição do imaginário social que possibilitou que novas experiências e visões de mundo rompessem com a chamada tradição. É esse papel da heresia como mecanismo de subversão que o presente trabalho pretender analisar.

Meu conceito final: 4

Como você pode ver, foi um semestre bastante longo, lotado de informações e conteúdos novos.

Chegando na reta final do curso, já percebo uma evolução bastante grande de conhecimento em relação ao início, o que muitas vezes é difícil de perceber devido àquele sentimento de que “não li muita coisa”, “não sei muita coisa”.

É hora de começar a pensar seriamente no mestrado em literatura da UFSC, no qual pretendo ingressar em 2011.

Atualização de 2015: A vida dá voltas! Quando estava na graduação, tinha uma ansiedade enorme para logo terminar o curso e partir para o mestrado/doutorado, o que acabei por não fazer até hoje.

Apesar de ser professor da graduação em Letras da Uniasselvi e de um curso de Extensão de Língua Portuguesa para Concursos na Universidade de Caxias do Sul, estou esperando uma oportunidade melhor para voltar aos estudos acadêmicos e fazer a pós-graduação — se é que realmente o faça.

Meu sétimo Semestre na faculdade de Letras

A reta final do meu curso de Letras se aproxima.

O sétimo semestre, diferentemente dos anteriores, não exigiu tanto trabalho e não tomou tanto tempo, principalmente por ter feito apenas 5 disciplinas e não 7 ou mais como costumava. A seguir lhe conto como foi cada uma delas.

Literatura Brasileira IV

A última das literaturas também foi a mais interessante.

Seguindo a linha cronológica, analisamos obras do período após 1945, conhecido como Pós-Modernismo.

O diferencial dessa análise é que ela se relaciona muito mais com nossa vida atual, pois baseia-se nas teorias da pós-modernidade, que estudam toda a complexa estrutura social dos nossos tempos, tentando explicar de que forma elementos como os meios de comunicação em massa e o capitalismo influenciam nas produções literárias.

Algumas características interessantes, encontradas tanto na vida social quanto na literatura, por exemplo, são a volta ao misticismo e o seu choque com o pensamento racional (marca do Modernismo), a marcante fragmentação do sujeito, que cada vez mais vê sua identidade diluída ao assumir os mais diversos papéis que a sociedade lhe impõe, e a crise das representações, que vem assombrando todas as formas de arte e acaba por influenciar todo o imaginário social.

Livros de Zygmunt Bauman

Se você quer saber mais sobre a pós-modernidade, esses são 3 dos vários livros que serviram como referencial teórico da disciplina:

  • O mal-estar da pós-modernidade, de Zygmunt Bauman
  • Identidade cultural na pós-modernidade, de Stuart Hall
  • A condição pós-moderna, de Jean-francois Lyotard

E essas foram as obras literárias que lemos e analisamos ao longo do período:

  • Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa
  • A hora da estrela, de Clarice Lispector
  • Contos reunidos, de Murilo Rubião
  • Feliz ano novo, de Rubem Fonseca
  • Antes do baile verde, de Lygia Fagundes Teles
  • Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues

Minha nota final nessa disciplina foi: 4

Literatura Sul-riograndense

A proposta dessa disciplina é bastante nova dentro dos estudos literários, visando desmistificar a figura do gaúcho que a tradição privilegiou.

Desde o primeiro livro que fala do gaúcho herói, conhecido como monarca das coxilhas ou centauro dos pampas, o clássico O Gaúcho, de José de Alencar, criou-se uma imagem idealizada do habitante do Rio Grande do Sul.

Essa imagem inclui traços como coragem suprema, domínio sobre os animais e as forças da natureza, machismo doentio, amor incondicional ao seu cavalo, grande força bruta e habilidades ímpares com armas como a boleadeira. O fato é que José de Alencar nunca esteve no Rio Grande do Sul e meteu-se a escrever um livro sobre algo que ele só conhecia através de relatos fragmentados de viajantes.

A partir daí, tanto a literatura quanto, posteriormente, os meios de comunicação passaram a privilegiar essa imagem de gaúcho, como se todos os habitantes daqui fossem iguais.

Campanhas de publicidade, por exemplo, sempre usam lemas como “amor ao Rio Grande”, “um tchê aos gaúchos” e coisas do tipo. E isso fica no imaginário social. O mesmo acontece quando um europeu vê o Brasil como uma terra cheia de florestas, onde só há mulheres lindas, carnaval e futebol.

Dessa forma, estudamos em ordem cronológica as obras que criaram essa representação e, depois, as que contribuíram para desmistificar isso tudo, o que ocorre a partir de João Simões Lopes Neto.

  • O gaúcho, de José de Alencar
  • O Vaqueano, de José Apolinário Porto Alegre
  • Contos gauchescos, de João Simões Lopes Neto
  • Porteira fechada, de Cyro Martins
  • Olhai os lírios do campo, de Érico Veríssimo
  • Solo de clarineta, de Érico Veríssimo
  • O tempo e o vento (O continente), de Érico Veríssimo
  • Incidente em Antares, de Érico Veríssimo

Minha nota final nessa disciplina foi: 4

Estudos Discursivos

Em estudos discursivos aprende-se, como o nome já diz, sobre o discurso e suas diversas possibilidades (detalhe que o termo discurso é usado aqui com o significado de língua em uso, de prática social de construção de textos).

É uma disciplina bastante teórica em que são analisados diversos textos, diversos discursos, no sentido de verificar suas camadas ideológicas. Expressões comuns foram:

  • Discurso e sujeito: o discurso como discurso de alguém
  • Discurso e ideologia
  • O discurso enquanto portador de elementos culturais
  • Discurso e Poder

A base teórica inclui autores cabeçudos como Bakhtin, Foucault, Pêcheux, Bourdieu, Mazière, Van Dijk e outros.

Minha nota final nessa disciplina foi: 4

História da Cultura

Essa é uma disciplina eletiva, que pertence ao curso de Turismo.

A proposta da professora foi fugir um pouco do molde clássico, no qual se passa um semestre estudando gregos e romanos, para dar atenção a manifestações culturais como fotografia, cinema, literatura, circo, teatro, pintura, arquitetura, etc.

Além disso, houve um trabalho que envolveu a pesquisa sobre diversas cidades importantes do mundo (uma para cada grupo) e posterior apresentação.

Foi uma viagem bem interessante pela história artística da humanidade.

Minha nota final nessa disciplina foi: 4

Estágio III em Língua e Literaturas de Língua Portuguesa

A nível de estudos teóricos, o Estágio III não difere praticamente em nada do II.

A diferença é que as aulas são ministradas para turmas do Ensino Médio, o que torna o trabalho mais árduo, mas também mais gratificante, pois com alunos mais maduros é possível realizar abordagens mais metódicas e organizadas em sala de aula.

Minha nota final nessa disciplina foi: 4

Considerações Finais

Apesar do sentimento nostálgico que se aproxima devido ao final do curso, todas as disciplinas foram muito boas e o aprendizado a partir delas também. No último semestre, as últimas matérias são:

  • Língua Latina
  • Filologia Românica
  • Estágio IV em Língua e Literaturas de Língua Portuguesa

Meu oitavo Semestre na faculdade de Letras

A trajetória de 4 anos finalmente está chegando ao final. Centenas de livros lidos, de páginas escritas, de discussões travadas dentro e fora da universidade, de reflexões sobre o ensino, de emoções e problemas com as práticas nas escolas.

Com certeza algo que vai ficar na memória pelo resto da minha vida.

Língua Latina

Mantenha a calma e aprenda latim

Aprender latim. Soa estranho, não é? Admito que essa não foi uma das matérias mais divertidas do curso — e ainda bem que foi no final, sei de universidades que têm latim no primeiro semestre de Letras — mas não deixou de ser esclarecedora em alguns aspectos.

O foco é realmente aprender a língua e toda sua estrutura — sintática, morfológica, fonológica. Estudando isso, você acaba entendendo muito mais o português, principalmente as questões etimológicas.

É uma língua difícil, mas que possibilita, após dominar pelo menos o básico, aprender as demais línguas românicas (ou seja, derivadas do latim) muito mais rápido.

A grande dificuldade, só para dar um exemplo, é que além de conjugar os verbos, como fazemos em português, em latim também é preciso “conjugar” (chama-se declinar, nesse caso) os substantivos e adjetivos conforme a sua função dentro da frase.

Se uma palavra é sujeito, se escreve de tal modo, se é objeto direto, se escreve de outro, sem contar que também há declinações diferentes se a palavra está no plural ou no singular. Enfim, uma palavra pode assumir até 12 formas diferentes, em latim. No final, percebi que realmente há bons motivos para estudar latim.

Minha nota final na disciplina: 4.

Linguística Românica

Praticamente uma extensão da disciplina de Língua latina.

O foco é estudar as línguas derivadas do latim e como elas surgiram, transformaram-se e evoluíram.

O início da matéria tem um caráter bastante histórico. Estuda-se a expansão do Império Romano e como isso contribuiu para que o latim se espalhasse por boa parte da Europa, dando origem, depois, às chamadas línguas romance, que depois evoluíram para português, italiano, francês, espanhol, catalão, romeno, sardo e outras.

Aliás, você sabia que todas essas línguas surgiram a partir do latim vulgar (ou seja, do latim falado pelo povo) e não do latim clássico? Foi só no Renascimento que, com o resgate da cultura clássica, entraram na língua, por via erudita, palavras derivadas do latim clássico.

A segunda parte da matéria é mais voltada para a cultura lusófona, ou seja, dos países de língua portuguesa.

Fizemos um trabalho em que cada grupo estudava um país que tivesse a língua portuguesa como oficial em seu território. Ficamos informados sobre números de falantes e coisas do gênero, mas também sobre aspectos culturais de Brasil, Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Angola, Macau, Guiné-Bissau e Timor Leste.

Minha nota final na disciplina: 4.

Estágio IV em Língua ou Literaturas de Língua portuguesa

O último dos estágios, que substitui o TCC de Letras na minha universidade.

Nesse, o objetivo era desenvolver atividades em um grupo de ensino não-formal, ou seja, fora de uma sala de aula convencional. Podia ser um grupo de idosos, uma ONG, contação de histórias em feiras do livro, um grupo de funcionários de alguma empresa e onde mais a criatividade do estagiário pudesse chegar.

Láurea Acadêmica do Curso de Letras - André Gazola

Eu desenvolvi uma oficina dentro da minha universidade, com alunos convidados por mim, chamada A literatura em tempos de microchips e aceleradores de partículas (clique no link para ler mais detalhes sobre ela). Foi, com certeza, a melhor experiência de todo o curso.

Minha nota final na disciplina: 4.

Agora é esperar a formatura dia 12 de janeiro. Enquanto isso, guardar materiais, arrumar livros e selecionar a lista enorme de leituras que agora vou ter tempo de fazer!

Durante esse percurso, falei muitas vezes aqui no blog sobre mestrado. O fato é que decidi parar pelo menos um ano para digerir melhor todo esse aprendizado, ler muitos dos livros que acabaram ficando para trás e decidir realmente o que quero estudar em seguida — e se preciso da burocracia acadêmica para isso.

Conclusão

Foi uma trajetória fascinante e de muito aprendizado!

Fiz o máximo possível para descrever tudo sobre o curso de Letras neste artigo para que você, que está pensando em fazer o vestibular, pudesse ter uma visão detalhada de como é cursar uma licenciatura tão apaixonante, mas também desafiadora, como essa.

Sobre o mercado de trabalho, só posso dizer que há MUITO campo para todos. Há cada vez menos gente se formando e, desses, cada vez menos exercendo a profissão.

Assim que me formei, consegui emprego em uma escola particular da minha cidade como professor de Literatura. A partir daí, surgiram oportunidades inúmeras de aulas particulares de redação e língua portuguesa, além do sempre requisitado trabalho de revisão de textos (artigos, contos, monografias).

Hoje eu trabalho em duas universidades — UCS e Uniasselvi — apesar de não ter feito mestrado, o que garante um salário bem razoável, sem as dificuldades que o professor de escolas da rede pública costuma passar.

Além disso, dou muitas aulas particulares de redação, principalmente, já que os cursinhos pré-vestibular falham completamente em preparar seus alunos nesse aspecto.

É importante ressaltar que essas oportunidades só surgiram — e continuam surgindo — devido ao ótimo desempenho que tive ao longo do curso, sempre me esforçando ao máximo para aprender e extrair todo o conhecimento possível dos professores. É graças às indicações deles que muitas portas se abriram para mim.

Evidentemente, o trabalho que realizo hoje é de grande qualidade e comprometimento com o aluno, o que faz com que eles também indiquem meu serviço a seus amigos, gerando uma onda crescente de alunos que vêm a minha procura.

Enfim, se você tem vontade de fazer Letras ou qualquer outra licenciatura, não dê ouvidos àqueles que o desencorajam com argumentos em torno do salário baixo dos professores. Em qualquer área, você só ganhará mal se for um acomodado, que realiza seu trabalho mecanicamente dia após dia, sem preocupar-se em ser O MELHOR naquilo que faz.

Aprenda os segredos de cada competência na Redação do ENEM através de um treinamento completo feito por um ex-avaliador do INEP.

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Escrito pelo professor André Gazola

André Gazola é professor de redação e língua portuguesa há 15 anos, foi avaliador de redações do ENEM por 3 anos e já levou centenas de alunos à aprovação em cursos concorridos como Medicina e Engenharia, em universidades federais e privadas. Além disso, foi orientador de artigos e TCCs em cursos de graduação por 4 anos e hoje é um grande entusiasta da inteligência artificial aplicada à educação. Atualmente produz conteúdo sobre redação para o Youtube, Instagram e Tiktok, além de gerenciar seus próprios treinamentos: o Meu Sonho de Redação e o ProfGPT.

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